Palancas Negras: A era de Vasiljevic

Palancas Negras: A era de Vasiljevic

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Fotografia: Sydney Mahlangu/BackpagePix

Na ressaca de mais uma participação no CHAN, desta vez marcada pela incapacidade de se manter a calma em momentos decisivos e pela ineficácia dos nossos avançados ao longo da nossa participação no torneio, a ideia agora é de projectar aquilo que serão os próximos compromissos da nossa selecção.

Ao contrário do que tem acontecido nas recentes exibições da nossa selecção nacional em competições internacionais, podem ser observados aspectos positivos na forma de jogar dos Palancas Negras, graças a uma filosofia de jogo moderna e proactiva implementada pelo treinador sérvio de 44 anos, Srdjan Vasiljevic que caso forem desenvolvidos, podem fazer deste treinador o verdadeiro catalisador dos palancas e do futebol nacional.

Apesar da pouca qualidade técnica e cultura táctica existente nos jogadores angolanos seleccionados para este torneio, Srdjan Vasiljevic conseguiu incutir na equipa de todos nós uma mentalidade mais ofensiva, dominadora e destemida, um estilo de jogo a ser analisado nos pontos a seguir:

A FORMAÇÃO

Vasiljevic abordou os jogos com um 4-3-3 com a dupla de centrais a ser composta por dois jogadores (Nary e Wilson) bastante confortáveis com a bola nos pés e com boa qualidade de passe e uma dupla de laterais bons nos duelos 1v1 ofensivos (Mira e Tó Carneiro) o que permitiu aos Palancas Negras realizar a saída de bola com tranquilidade e resistindo à pressão adversária. O trio de médios foi composto por dois jogadores com características essencialmente defensivas (Herenilson e Almeida) e o “terceiro homem” (Paty e mais tarde Manguxi) a providenciar a ligação entre o meio campo e o ataque. Enquanto que o trio de ataque foi composto por dois extremos tecnicamente dotados e bons nos duelos individuais (Job e Vá) e um Jogador Alvo (Fofó) que foi capaz de realizar combinações com os extremos e também ser a referência principal da selecção na grande área adversária.

A FILOSOFIA

Como já mencionado acima, Angola apresentou um estilo de jogo ofensivo apostando na criação de situações de superioridade numérica em diversas áreas do campo, sendo as alas as zonas mais exploradas pela selecção nacional. Esta superioridade foi utilizada para facilitar as combinações entre os médios, extremos e laterais para que se criassem mais oportunidades de cruzamento.

 

Algo que também chamou atenção foi a utilização da mesma movimentação para criar situações de superioridade numérica na altura de recuperar a posse de bola. Os jogadores obrigaram a equipa adversária a passar a bola para as linhas de passe mais próximas de formas a criar “instigadores de pressão” onde dois ou mais jogadores estivessem em boa posição para recuperar a bola ou de obrigar o adversário a tomar uma decisão que beneficiasse o conjunto nacional no meio campo ou próximo da grande área adversária.

Muitas destas situações de superioridade numérica permitiram aos Palancas pressionar assim que se perdesse a posse de bola, evitando um contra-ataque adversário.

Solidez defensiva: a selecção nacional não sofreu golos durante a fase de grupos do torneio, tendo sido eliminada da competição com apenas 2 golos sofridos em 4 jogos.

O QUE CORREU MAL?

Apesar dos excelentes indicadores tácticos, a qualidade dos jogadores que actuam no nosso campeonato certamente deixou a desejar em diversos pontos como a finalização das chances criadas (Angola apenas rematou 12 vezes ao alvo em 43 tentativas durante a campanha no CHAN), a excessiva procura do jogo pelas alas que certamente tornou o nosso plano ofensivo bastante previsível e a incapacidade do meio campo nacional de tomar as decisões corretas no último terço do terreno, tendo sido desperdiçadas imensas chances de criação de oportunidades pelas zonas centrais foram as principais dores de cabeça durante o torneio.

 E AGORA?

Considerando os resultados que foram obtidos, tendo em conta os recursos à disposição da equipa técnica e a qualidade dos jogadores seleccionados, podemos considerar esta, uma campanha bastante promissora por parte de Vasiljevic e companhia que tiveram a coragem de arriscar e adaptar uma equipa a jogar num sistema complexo durante um curto espaço de tempo. Com isto, podemos apenas esperar muito melhor nas participações em outras competições internacionais contando já com jogadores que actuam na diáspora e alguns jogadores que estavam indisponíveis para convocatória, estes, que podem trazer melhorias significativas para o conjunto nacional. Alguns exemplos:

Bastos Quissanga

O defesa central da Lazio de 26 anos, produto da escola de formação do Petro de Luanda, possui uma grande qualidade de passe e já demonstrou ser influente no processo de construção de jogo dos Biancazzuri completando nesta temporada uma média impressionante de 89% de passes completados, realizando em média 59,2 passes por jogo. No capitão da selecção nacional, pode estar a resolução de muitos problemas não só defensivos, mas também de manutenção da posse de bola, pois impedirá a utilização excessiva e muitas vezes desnecessária de passes longos, o que permitirá ter um melhor controle do ritmo de jogo dos médios. Na imagem abaixo, podemos observar a quantidade de passes que são feitos para e por Bastos durante um jogo da Lazio.

fonte: @11tegen11

Carlos Sténio do Carmo “Carlinhos”

O médio organizador de jogo de 22 anos que actua pelo Petro Atlético pode ser um elemento fundamental para os planos de Vasiljevic pois possui o perfil de um centro campista essencial para este tipo de filosofia. O médio consegue ditar o ritmo de jogo a partir de zonas mais recuadas e quebra as linhas adversárias com passes curtos ou longos em demarcação conseguindo criar oportunidades mais perigosas a partir das áreas mais centrais do terreno, o que pode adicionar mais imprevisibilidade e variação ao processo ofensivo.

E finalmente Jacinto Muondo Dala “Gelson”

É certamente o talento mais promissor que o futebol nacional já produziu nos últimos anos, e aos 22 anos de idade já é considerado por muitos o jogador mais importante dos Palancas Negras. Esta influência pode ser maximizada sobre comando de Vasiljevic caso o produto das escolas do 1º de Agosto for posto a jogar como um falso nove ou trequartista, tarefas que o permitirão estar mais envolvido no processo de criação de oportunidades, surgindo através disto uma tão necessária ligação entre o meio-campo e o ataque. Uma tarefa que certamente tirará o melhor da sua qualidade técnica e inteligência no último terço do terreno.

Considerações finais

Apesar de que na minha opinião, a selecção nacional estar a passar por momentos de bastante esperança, ainda há um longo caminho por se percorrer e esperamos ansiosamente que as relações entre Srdjan Vasiljevic e a Federação sejam as mais saudáveis e cordiais possíveis, para que finalmente se consiga implementar um plano de longo prazo e que traga resultados consistentes no futuro.

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