Acto I – Considerações Gerais
Foi com ledice e regozijo que vi o embate dos Palancas Negras em Ouagadougou, diante dos garanhões burkinabes à contar para a primeira jornada de apuramento ao Campeonato Africano das Nações de 2019. No cômputo geral dos noventa minutos, foi uma exibição aceitável e com particular destaque aos primeiros quarenta e cinco minutos da partida.
Acto II – Organização defensiva
Com um claro 4-4-2 os Palancas Negras demonstraram uma organização defensiva notável sobretudo nos momentos de transição defensiva. A defender em bloco e com uma pressão ao portador da bola como há muito não se via – Angola, apresentou-se com uma equipa bastante equilibrada e organizada – um equilíbrio defensivo que resultou da excelente interpretação dos princípios de oscilação e basculação, reduzindo os espaços, e controlando os adversários em largura e profundidade (finalmente defesa à zona em detrimento do obsoleto homem-a-homem) o que deixou os adversários pressionados na fase de construção, sem opções e nem linhas de passe. Os nossos jogadores estenderam-se lindamente em largura e profundidade nos mais de 100 metros do Estádio 4 de Agosto em Ouagadougou.
Acto III – Organização ofensiva
Da pressão alta, da redução dos espaços e do acerto nos desarmes resultava quase sempre a recuperação da bola – posse – com a posse da bola, começavam as nossas dores de cabeça – a transição ofensiva – “o que fazer com a bola?” era a pergunta que ecoava nas hostes dos Palancas Negras sempre que recuperavam o esférico. Sem qualquer imaginação nas diferentes fases do ataque (construção, criação e definição), os Palancas Negras claudicaram bastante no processo ofensivo. A disposição inicial em 4-4-2 que funcionava exemplarmente em organização defensiva, pecava descomunalmente no momento de desfazer-se nas suas variantes (4-5-1 e 3-4-3) para ataques continuados e sequenciais com variedade de soluções. Sem qualquer amplitude, o nosso ataque blasfemou feio nas variações e triangulações que nos possibilitariam controlar melhor alguns momentos do jogo. A culpa não é da oposição e muito menos do Beto Bianchi, A culpa é das nossas academias, que décadas após décadas, não conseguem formar médios ofensivos com atributos acima da média, jogadores com qualidades tácticas, técnicas e psicológicas, que em situações de ataques rápidos, sejam capazes de libertar o 4-4-2 para outras dinâmicas posicionais.
Acto IV – O resultado
Se Angola esteve bem defensivamente, como pode ter sofrido 3 golos? Apesar de a selecção da casa ter dominado o jogo, foram dois erros de arbitragem que fizeram com que Angola corresse sempre atrás do resultado. No primeiro golo, Aristide Bancé estava claramente em fora-de-jogo e o segundo golo surgiu de um penalti inexistente. Ainda assim, há que dar mérito à equipa da casa que sempre teve a iniciativa de jogo e procurou com regularidade a baliza de Gerson.
Acto V – A alquimia
Da insuficiência e escassez nacional de produção de jogadores com características ofensivas, começaria a alquimia do seleccionador. Faltando-lhe ovos para omeletes, podia muito bem especializar-se na arte das misturas, experiências, adaptações e readaptações. Gelson, é na nossa selecção, claramente o jogador tecnicamente mais evoluído e esclarecido. O 4-4-2 de Beto Bianchi, devia atacar em losango (3-1) com três médios mais recuados e um mais ofensivo, esse médio ofensivo seria o Gelson, que não seria propriamente um tradicional organizador número 10, Gelson, teria antes, a missão de jogar nas costas dos avançados e surgir ocasionalmente como um terceiro avançado.
não faz muito sentido continuar à apostar todas às fichas nos lances de profundidade em busca dos rasgos do Ary Papel, que por sua vez, apesar de veloz e virtuoso, falta-lhe o essencial como ala – qualidade de passe
A meu ver, não faz muito sentido continuar à apostar todas as fichas nos lances de profundidade em busca dos rasgos do Ary Papel, que por sua vez, apesar de veloz e virtuoso, falta-lhe o essencial como ala – qualidade de passe – com cruzamentos anedóticos é o tipo de extremo que faz 5 assistências em 55 jogos, Ary Papel – nessa alquimia desejada – devia jogar como ponta de lança com Gelson na posição 10 a explorar a velocidade de Ary Papel, municiando-lhe com passes de ruptura, passes com selo de golo. Precisamos de mais jogadores envolvidos nas acções ofensivas, o Nelson da Luz, deve ser readaptado posicionalmente e aproveitar-se o enorme ímpeto ofensivo.
Os nossos recursos humanos são limitados, precisamos de magia, precisamos de um alquimista.
2 Comments
Luis Gunza
Ilustre,
O nosso sistema mas parecia um 3-3-4 e claramente o nosso tema esta no terceiro homem do meio-campo.
Podemos apostar no Bua, Manguxi, Carlitos no entanto isso iria “minar” o nosso rigor defensivo
Abc
Mardilénio Hifewa
Certo, Luís Gunza.
Mas repare, parafraseando o José Mourinho – As defesas ganham campeonatos e os ataques ganham jogos -. São jogos a eliminar, o rigor defensivo tem de ser sacrificado em prol de um ataque mais profícuo. Estamos sem ideias, precisamos de – Possession With Progression – como diz o Arsene Wenger, uma posse de bola consequente, criar oportunidades de golo.