A figura do ponta-de-lança, tradicionalmente vista como o matador dentro da área, há muito que vem enfrentado uma transformação significativa no panorama do futebol contemporâneo. A mudança não é apenas uma questão de estilo de jogo, mas reflecte uma evolução táctica que redefine o que se espera de um avançado. A análise desta transição leva-nos a considerar factores como a dinâmica do jogo, a influência das escolas de formação e a adaptação dos jogadores às novas exigências.
Portanto, por ocasião de uma conversa amena, em que se debatia o facto de se ter perdido, algures pelos ventos da modernidade futebolística, a figura do ‘ponta-de-lança’ clássico. Decidi dar o meu contributo sobre o tema abordando aspectos que se interrelacionam…

- O Passado Glorioso do Ponta-de-Lança: Enquadramento
Historicamente, o ponta-de-lança era o jogador que se destacava pela sua capacidade de finalização. Exemplos clássicos incluem jogadores como Gerd Müller, Eusébio, Osvaldo Saturnino “Jesus”, “Alves”, Marco van Basten, Ronaldo “Fenómeno”, “Akwá” e Flávio Amado, que eram quase infalíveis em situações de golo—muitos dos quais tive o grato prazer de ver jogar e outros a quem a história fez o favor de os referenciar—. Estes jogadores não só possuíam capacidades técnicas excepcionais, mas também um instinto inato para estar no lugar certo, no momento certo. A função principal era clara: marcar golos. Na era em que os sistemas tácticos eram mais rígidos, o ponta-de-lança tinha um papel bem definido dentro da estrutura da equipa. Independentemente dos sistemas tácticos em que estes estivessem inseridos, as dinâmicas permitiam a estes jogadores posicionarem-se estrategicamente para receber passes e finalizar jogadas.
Seguramente por questões sociológicas e por tratar-se de um registo comum no ser humano pretender inserir-se socialmente num ambiente em que este se sinta parte de algo único/extraordinário, as tendências do jogo de futebol foram conhecendo igual correspondência evolutiva. Por ex.: no final dos 80s, o célebre 1-4-4-2 da Squadra Azzurra (Arrigo Sacchi), passou a ser adoptado pelo AC Milan de F. Capello. Na mesma senda e já nos finais dos 90s, a Juventus de M. Lippi adoptou o 1-4-3-1-2 e quase todos passaram a jogar da mesma forma (inclusive os aficionados da célebre série de jogos de computador Championship Manager (suspiro de saudade ao som de “Bons Velhos Tempos” de Boss AC)). Posteriormente veio a “Barcelonalização” do futebol e aqui iniciámos a nossa viagem…