A selecção dos Camarões, campeã em título do Campeonato Africano das Nações, concordou em participar da maior festa do futebol continental apesar de não estar completamente satisfeita com a situação dos pagamentos.
Os camaroneses estiveram próximos de serem desclassificados por não se encontrarem no palco da competição a tempo. De acordo com as regras da CAF, qualquer selecção presente no CAN 2019 deveria ter chegado ao Egipto ontem de manhã, antes do jogo inaugural entre Egipto e Zimbábue. Até a manhã de ontem, os Leões Indomáveis ainda encontravam-se em Yaounde, os jogadores recusaram-se viajar até que várias das reivindicações fossem analisadas pela federação do seu país.
Os jogadores protestam contra os bónus oferecidos pelo governo do seu país. Eles exigem 40 milhões de francos (€61.000) para cada jogador, enquanto as autoridades dizem que não podem pagar mais de 20 milhões de francos (€30.500), que inclusive já foram transferidos para as suas respectivas contas bancárias.
Esta situação já se arrasta há alguns dias, tanto a Federação Camaronesa de Futebol (Fecafoot), como o Ministro dos Desportos falharam nas negociações. O Governo teve que apelar à intervenção da lenda Samuel Eto’o para tentar convencer os jogadores, mas também sem sucesso.
Os jogadores tornaram pública uma carta onde explicam as suas preocupações. Veja aqui:
1) A maioria de nós pagou total ou parcialmente as passagens aéreas dos nossos clubes para o estágio da selecção para os preparativos do CAN;
2) Durante as duas semanas de estágio em Madrid e Doha, nenhum jogador, entre os 23 finalistas ou os 14 excluídos, recebeu qualquer prémio de participação;
3) Nosso estágio em Doha e nossa viagem a Yaoundé foram todos patrocinados pelo Qatar, tal como a eventual viagem ao Cairo;
4) Um decreto presidencial que remonta a 2014 estabelece que todos os bónus, taxas de participação em jogos amigáveis e estágios devem ser pagos aos jogadores antes do início de um grande torneio como o CAN;
5) Em 2017, aceitámos os prémios mínimos propostos à luz da situação socioeconómica que prevalecia na altura;
6) Até aceitámos uma redução de 25% nos nossos bónus do CAN mas, infelizmente, eles não estão a honrar isto;
7) Lamentamos a má comunicação entre os jogadores e os dirigentes do futebol deste país;
8) Desejamos que a futura geração de jogadores não sofra um descaso semelhante ao nosso e dos que nos precederam;
9) Essa desorganização levou à recusa de jogadores como Joel Matip, Stephane Mbia e Nicolas Nkoulou em participar da competição.
A carta foi assinada por TODOS os 23 jogadores.
Cameroon’s national team had to arrive Cairo early today morning. But they’re still in Yaoundé after they embarked on a strike to demand their participation bonuses before heading to Egypt for the AFCON Games. They’ve sent out a press release explaining why they are on strike. pic.twitter.com/xwodK3yurV
— Regina Sondo (@ReginaSondoM) June 21, 2019
Em uma declaração publicada pelos jogadores, eles disseram: “A oferta do governo permaneceu a mesma, por isso não estamos satisfeitos – mas decidimos encerrar todas as negociações. Assim que chegarmos a Ismailia, queremos nos concentrar apenas no torneio sem interferência externa”.
De lembrar que a selecção dos Camarões não é a única a passar por esta situação, os angolanos também reclamaram dos seus prémios de jogo antes do início da competição, situação que foi prontamente resolvida pela Federação Angolana de Futebol. A selecção do Zimbábue também ameaçou boicotar o jogo inaugural por conta de uma dívida da sua federação para com os seus jogadores.