Erikson Soares, também conhecido como Tubarão, é um jovem muito focado nos seus objectivos , simpático e muito observador. É bicampeão africano de Xadrez (2011 e 2013), na categoria de juniores, detentor do título de Mestre Internacional de Xadrez e criador do Projecto Xeque-Mate. O Projecto Xeque-Mate é uma iniciativa da primeira academia de xadrez de Angola, Os Tubarõeszinhos e tem como objectivo a massificação, divulgação e inserção do xadrez na sociedade a nível nacional. O mesmo consiste em levar a modalidade às escolas como uma actividade extra-curricular, algo que já perdura há mais de 5 anos. Até a data da entrevista, cerca de 2.387 crianças das mais variadas escolas públicas e privadas já aderiram ao projecto.
PD: Como começou o Projecto Xeque-Mate?
ES: Comecei o Projecto Xeque-Mate após me tornar campeão africano em 2011, na altura voltei com o propósito de ensinar aquilo que acarreto, mas não basta apenas ser um bom jogador, passei em Karzan (Rússia) e no Rio de Janeiro (Brasil) onde beneficiei de uma formação. Formei uma equipa e hoje temos mais de 2.377 crianças nas mais variadas escolas públicas e privadas.
PD: Qual é o impacto que o Xadrez teve na tua vida?
ES: O xadrez ajudou-me muito a discernir aquilo que é o certo e o errado, pensamento lógico crítico e criativo, aprender a lidar com as derrotas, amor ao próximo e a desenvolver o meu intelecto.
PD: Costuma-se dizer que a personalidade de um jogador de xadrez é um reflexo do seu estilo de jogo. Qual é a tua opinião sobre isso?
ES: Sim!!! A personalidade de um jogador fala muito sobre ele no xadrez, mas os melhores jogadores conseguem ir à busca de outras personalidades para confundir os seu adversários e aprendem a ser muito versátil em tudo!
PD: Até ao momento, quais são as maiores dificuldades que já enfrentou na sua carreira?
ES: A compreensão… hoje vivemos num século em que o imediatismo fala mais alto, as pessoas não conseguem colocar-se na posição do outro, e isso se reflecte muito no que faço, pois o projecto que acarreto espelha exactamente como limar essas arestas, e ajudar jovens como eu a ganharem auto-estima, criar oportunidades e o melhor, a lidarem com as derrotas. Por outra, aumenta as capacidades cognitivas e os nossos níveis culturais, e no melhoramento de quadros ao país, visão esta do Presidente da Republica de Angola.
PD: Qual é pra ti a melhor idade para o início da prática do xadrez? Porquê?
ES: 5 anos!!! Nesta fase os nossos meninos começam a desenvolver as suas habilidades.
PD: Em termos de crescimento e popularidade como é que achas que o Xadrez está em Angola e como o vês no futuro?
ES: Cresceu muito!!! E o Projecto Educacional junto com a primeira academia de Xadrez em Angola é a prova disso. Vejo um futuro onde o xadrez poderá ser a primeira modalidade do pais.
PD: Qual é a tua peça favorita no tabuleiro e porquê?
ES: Não tenho… Todas elas são utilizadas de forma sabia para o mesmo objectivo: Vencer (Xeque-Mate)
PD: Quais os grandes jogadores que você já enfrentou? E qual foi o mais difícil?
ES: Já tive muitos, pois, hoje sou Mestre Internacional e tenho enfrentado os melhores jogadores da praça… Mas de certeza que o maior adversário que já tive em toda minha vida, fui eu mesmo, pois tive que trabalhar de forma árdua para poder me auto superar .
PD: Que diferenças a nível de preparação existem entre os competidores angolanos e estrangeiros?
ES: Bem, na verdade há muitas!!! O xadrez a nível internacional tem uma grande dimensão, além de se poder viver dele profissionalmente, as pessoas têm um maior respeito pela modalidade, pois, já é mais compreendido. Desta forma, os jogadores internacionais chegam a ser naturalmente mais esforçados. Mas na vida, nem sempre quem mais se esforça acaba por vencer. Nós, Angolanos, temos um talento nato, porque mesmo sem os programas que eles têm conseguimos jogar de igual para igual e muitas das vezes superá-los.
PD: Já atingiu o nível de Mestre Internacional, qual é o seu próximo passo?
ES: Tornar-me num Grande Mestre (a montra do xadrez mundial). Para se tornar num Grande Mestre é necessário conquistar 3 normas de Grande Mestre, ou seja, tens de vencer 3 campeonatos fortes internacionais (que tenham alguns mestres a participar) e conquistar o rating (elo, força de jogo de um atleta) de 2.500 pontos. Em suma só jogando muitos campeonatos internacionais é possível. Eu já conquistei 2 normas de Grande Mestre, falta-me apenas uma.
PD: O que Angola precisa fazer para ter mais mestres internacionais?
ES: Precisa abrir mais escolas e melhorar as condições das já existentes, para servirem de motivação para os próximos.
PD: Foi campeão dos juniores em 2011, o que falta para repetir a proeza, desta vez nos seniores?
ES: Repeti a proeza em 2013 e também fui campeão no Campeonato Africano Universitário… Para os Seniores, preciso continuar a trabalhar, ainda não sou campeão mas sou Vice-campeão Africano Sénior por ZONA.
PD: Qual a sua opinião sobre o filme “Rainha de Katwe”?
ES: Excelente! Para a nossa realidade, espelha exactamente que por cima de todas as dificuldades podemos ser vencedores. Por acaso a minha academia “Os Tubarõeszinhos” trabalhou na exibição do filme nos cinemas, colocamos à disposição do público que foi assistir o filme, uma área de aprendizado! Ou seja, todo mundo que foi para os cinemas Cinemax (Xyami Shopping) e Zap Cinemas (Avennida Shopping), podia aprender a jogar gratuitamente. Colocamos professores e um demo chess (tabuleiro gigante) à disposição do público alvo.
PD: Planos para o futuro?
ES: Ser um empresário bem sucedido, a fim de dar empregos e ajudar pessoas como eu que por vezes precisam de uma oportunidade.