Assistir as meias finais da liga dos campeões europeus fez-me meditar sobre a dicotomia cada vez maior entre o futebol-espectáculo e o futebol-negócio/resultado.
Ora vejamos, o primeiro jogo entre o Atlético de Madrid e o Chelsea foi provavelmente o pior jogo da fase a eliminar desta edição da liga dos campeões. As duas equipas jogam a partir do mesmo princípio: ceder a bola ao adversário e converter cada erro deste num contra-ataque impiedoso e mortal, a idéia é sobretudo não perder.
Penso que com esse pressuposto José Mourinho preparou o jogo de terça-feira, os jogadores do Chelsea olhavam a bola como que se de algo envenenado se tratasse e cederam-na ao Atlético, com isso o Chelsea abdicou completamente de atacar defendendo com 10 jogadores ficando Torres solitário no ataque a espreita de uma falha, um erro do adversário e assim matar o jogo, foi com essa premissa que os madrilenos eliminaram o Barcelona nos quartos de finais porém, com o Chelsea a abdicar da posse de bola coube ao Atlético ter a iniciativa do jogo, algo relativamente raro para uma equipa que geralmente se fecha atrás da linha de bola e ficou patente que a falta de rotina de ataque causou relativa confusão aos jogadores do atlético que nunca dominaram verdadeira mente o jogo – Mourinho contava com isso…
Diego Simeone e José Mourinho construíram duas equipas cujo objectivo é ganhar, ganhar a qualquer custo sem se importar da beleza estética do jogo, tentando converter um desporto como o futebol num exercício de exactidão clínica, condenando para o limbo a parte mais bonita deste jogo – o talento e a capacidade criativa dos jogadores, por isso se pode observar Torres correndo como um louco em ambos os sentidos do jogo e Diego Ribas aos encontrões na zona do meio campo, tocando a musica tal e qual aparece na partitura dada pelos dois treinadores, proibidos de ter qualquer lampejo de genialidade, dois exemplos de jogadores artistas reconvertidos a gladiadores.
Entendo que todos querem ganhar e nesta era em que o futebol é um negócio multi-milionário a pressão que a massa directiva efectua sobre os treinadores é cada vez mais pesada, mas é preciso não esquecer que este desporto é espectacular, a criatividade e o talento dos jogadores convidam mais pessoas a serem adeptas do belo jogo. Imagino que os verdadeiros adeptos do futebol não ficaram nada satisfeitos com este Atlético VS Chelsea, é frustante ver um jogo em que as duas equipas pensam primeiro em não perder ao invés de tentar ganhar efectivamente o jogo. É possível que uma destas equipas possa ganhar esta competição mesmo jogando este futebol insípido que desenvolvem e assim veremos mais uma vez o triunfo do futebol resultadista e sem espectáculo sobre o futebol de ataque onde a idéia é ganhar o jogo adaptando à táctica as condições técnicas dos jogadores. Veremos Simeone e sobretudo Mourinho coroados mestres da arte de estropiar o belo, da arte de destruir o espectáculo futebolístico que é ver equipas como o Barcelona de Guardiola ou o Manchester de Ferguson vencer e verdadeiramente convencer.
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Por Hélder Muxiri